Com humor inteligente, filme argentino retrata falta de civilidade e selvageria nas cidades
Brasileiro gosta de piada de peido, de humor pastelão, de bordão zorra total, de baixaria e vergonha alheia. Isso não nos diminui nenhum pouco, porém ao ver a comédia argentina Relatos Selvagens, devemos nos perguntar se culturalmente não estamos ficando para trás em relação a nossos hermanos.
O imperdível filme do diretor Damian Szifron, traz um humor rebuscado que infelizmente não estamos habituados em produções por aqui, e o mais legal é que essas piadas "inteligentes" nos fazem rir mais do que o filme de um comediante canastra do Brasil, como Leandro Hassum, falo isso baseado em que ambas as produções se projetavam no mesmo horário e não pude ouvir nenhuma risada da sala ao lado, enquanto a sala do filme esbanjava gargalhadas.
O longa tem produção do diretor espanhol Pedro Almodóvar (ganhador do Oscar de melhor roteiro por Fale com Ela, 2002). A trama é dividida em seis capítulos, que contam histórias diferentes, misturando drama, humor negro e romance, unidas pelo tema da vingança. Cada capítulo tem ritmo e tensão crescentes que culminam em um final inusitado. O primeiro episódio é curto e se passa dentro de um avião em que os passageiros descobrem que têm algo em comum. O segundo, mais complexo, apresenta uma garçonete de um restaurante de beira de estrada que revê o homem que arruinou sua família. Este e o penúltimo episódio são os mais dramáticos, com menos humor e um certo questionamento sobre injustiças sociais. A penúltima história é sobre um jovem de família rica que atropela e mata alguém. Ricardo Darín (O Segredo dos Seus Olhos), figurinha carimbada em produções argentinas, aparece no meio do filme. Ele é um engenheiro especialista em implosões.
Situações tão cotidianas como brigas de trânsito, ou buscar um bolo encomendado, nos fazem refletir sobre como a efemeridade da vida é constituída e combatida na velocidade que o mundo vive. O diretor nos faz perceber isso a todo momento quando muda o foco de vermos as coisas, em cenas como uma briga dentro de um automóvel temos o áudio interno do veiculo e o do mundo externo, mostrando a falta de objetividade da briga, e outras imperdíveis cenas de como a força do stress tão cotidiano nos leva a tomar conta de quão patéticos podemos ser.
Apesar da violência e do constante desejo de vingança, o filme retrata um ode aos encontros e desencontros da vida, somos marcados por escolhas e todas elas são mutáveis e de risco somente nosso. Além de tudo o longa retrata bem a cultura Argentina, impossível não abrir o apetite quando vemos Darín saborear um café com medialuna, tão comum nas padarias irresistíveis da Argentina, ou quando vemos toda a soberba de nossos hermanos tão bem retratados pelo mafioso e pelo investigador da polícia. Seja no que tem de bom ou ruim, o filme nos faz rir do comum, do que poderia acontecer a qualquer um de nós, e a graça está nisso, ambição, revolta, stress, mágoa, vingança. A vida é mesmo engraçada.
Avaliações:
O filme tem nota 8 no site Adoro Cinema, o blog Cinemandoadois vai mais longe e dá nota 8,5 para o humor negro e tão envolvente que o filme nos traz.
Trailer Legendado:
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