domingo, 11 de janeiro de 2015

'A Entrevista' (The Interview, 2014) e o debate contra a censura

Produção escrachada norte-americana levanta debates contra até onde o humor pode ir




Quando Seth Rogen e o produtor Evan Goldberg discutiam idéias para um novo filme provavelmente super chapados de maconha, rindo de piadas de como não seria engraçado matar o presidente norte-coreano, mesmo que fosse na tela dos cinemas, eles nem em suas maiores pirações poderiam prever a repercussão e quanto pano pra manga eles levantariam com seu senso de humor negro.

'The Interview', fechou 2014 e começou 2015 fazendo muita polêmica. A sátira estrelada por James Franco no papel de um apresentador de Daily Show poderia muito bem ter passado despercebida, com alguma carta de repúdio norte-coreana aos EUA (mais uma delas) e especialistas debatendo o quão longe o humor pode ir, porém a estréia do filme tomou proporções quando o governo norte-coreano, e o ditador Kim Jong-un se viram como "palhaços" de Hollywood. Quando a produção estava por encerrada, a Coréia do Norte fez vários pronunciamentos de como representar a morte de um líder de um país era uma afronta e incentivava uma visão deturpada do povo norte-coreano.



Seguindo a constantes adiamentos do lançamento do longa pela Sony Enterprises, o clima de tensão foi se armando, até que em 29 de novembro do ano passado, hackers acessaram os computadores da Sony e tiveram acesso a todo tipo de arquivos, emails, filmes não lançados, roteiros, entre outros documentos que comprometiam o sigilo da companhia. A porta-voz norte coreana também tomou parte nos ataques e várias promessas de atentado terroristas foram feitas caso o filme fosse lançado, houve muita especulação sobre quantos cinemas iam aos ares se de fato o longa fosse exibido.

Pronto, o circo estava armado! A Sony cancelou o lançamento do filme, o presidente dos EUA, Barack Obama, entrou no meio, dizendo que se "acovardar" diante de ameaças de um ditador não era a decisão certa a ser feita. Inúmeras celebridades foram contrárias a postura da Sony, o escritor Paulo Coelho até ofereceu US 100.000,00 para a empresa para comprar os direitos do filme, alegando que iria fazer a distribuição gratuita. 

Os discursos ficaram acalorados dos dois lados, comprovado que os ataques a Sony vieram mesmo da Coréia do Norte, Obama se pronunciou dizendo que assistir ao filme era um ato de civismo americano! Comentários como esse levantaram várias discussões sobre uma possível estratégia de marketing da empresa.


Sobre o filme
O filme em si é uma grande sátira dos programas de variedades americanos e sua constante obsessão pela vida das celebridades. Com o ator Randall Park no papel do ditador Kim Jong-un, o filme traz um humor escrachado, é fácil rir durante quase o filme inteiro.

James Franco está muito bom na pele de um apresentador canastrão, que no longa o ditador é muito fã. O filme mostra um "bromance" entre os personagens, sendo que o plano original de matar o ditador é prejudicado, porque o apresentador fica encantado com as histórias que lhe são contadas.

É um filme a ser visto principalmente por causa de toda a polêmica em volta dele, porém como comédia não traz nada que já não tenha sido testado, o que mesmo assim nos faz rir, em especial pelo talento de Franco e pra quem, assim como eu, adora o estilo de humor de Seth Rogen.




Toda a polêmica causada teve um ponto de destaque muito importante, o filme foi re-lançado por vendas digitais, aliás o primeiro da Sony e qualquer outra grande companhia nesse formato e teve um retorno significativo. Isso nos leva a crer que em pouco tempo o streaming vai chegar aos cinemas, e isso deve mudar a forma de como os lançamentos são feitos, ninguém mais vai precisar sair de casa para ver as novidades, porém é difícil crer que seja a mesma coisa sem a telona. É aguardar para ver o futuro.

Nota Cinemando: 6/10

Obs1.: O filme chegou a ter 9,9 de 10, em avaliações no iMDb, a maior de todo o site, e talvez muito inflacionado pelo apego nacionalista que foi implantado.

Obs2.: Os e-mails que vazaram da Sony deixaram evidentes problemas da companhia como negociações tidas como machistas pela grande mídia sobre cachê dos artistas.


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