ATENÇÃO: Este texto contém SPOILERS de todos os filmes de "Jogos Vorazes" e de "Alien"
“Jogos Vorazes” é uma franquia para adolescente que dialoga com diversos temas pertinentes pra a nossa sociedade atual. A primeira barreira quebrada, e talvez a mais importante, é uma nova definição da protagonista feminina adolescente. Antes de Katniss Everdeen, tínhamos adolescentes em escolas vivendo suas comédias românticas, questões sobre o bullying e quem vai levar a mocinha para o baile, eram o clímax dos filmes. Mais recentemente tivemos a queridíssima Bella Swan de “Crepúsculo” que eu espero de verdade não inspire novas protagonistas do tipo, embora já exista “50 Tons de Cinza” para acabar com a nossa esperança.
E então, eis que o mesmo estúdio que lançou “Crepúsculo” lança “Jogos Vorazes”. No início me deixou muito desconfiada, porque se dizia o novo “Harry Potter”, mas hoje, finalizado a franquia, consigo ver que Katniss Everdeen é a Ripley, a Sarah Connor e a Princesa Leia da nossa geração. Ela está abrindo portas, assim como a Ripley e a Leia, para uma nova leva de protagonistas femininas que são do c*. Ela é badass como a Sarah, usa couro e vai fazer a revolução. Não porque ela tem ideais ou porque acredita em um outro governo, ela faz a revolução por motivos muito particulares como salvar a irmã, se salvar, salvar as pessoas com quem tem dívida de gratidão e porque ela odeia o presidente, não é mesmo?
O futuro distópico apresentado por “Jogos Vorazes” é o capitalismo que venceu, elevado a décima potência (lembra Alien, não?), representado pela Capital (olha o nome), que é um governo totalitário que oprime sua população produtora em prol de manter o padrão de vida exacerbado de sua população consumidora. São 75 anos desde a última rebelião, isso significa que esse sistema existe há muito mais tempo, acho que não temos algo assim na atualidade para conseguir comparar. Isso implica que não existe mais gente viva que lembre como era antes da ditadura e neste mundo, aparentemente não existem relações exteriores, então não sabemos o que acontece com o resto do mundo. Não existe educação, nem meios de comunicação, não existe nada que possa fazer as pessoas pensarem. Então, Katniss é lenta para perceber as coisas, um pouco inocente e falta malícia, mas quem não seria assim nesse mundo? Só de ela não ser uma “boçal” já é ponto para ela.
-----------SPOILER
E então chegamos no último filme da franquia “A Esperança, o Final”. O filme inicia com uma heroína quebrada, a voz da revolução que não lhe sai da garganta. No panorama geral, só falta conquistar o distrito 2, que é o centro militar da Capital, e a própria Capital. Então, Katniss vai para a luta, não porque a revolução precisa, mas porque ela não suporta ver o Peeta a odiando, novamente, por um motivo particular. E talvez aqui seja o ‘escorregão no quiabo’. Se não fosse a decisão de fazer dois filmes com o último livro, e se o terceiro filme (Jogos Vorazes, a Esperança - parte I) não fosse tão arrastado, o triângulo amoroso não teria tanta importância. Para a história final não faz diferença, se Katniss vai ficar com o Peeta ou com Gale ou se vai ficar sozinha ou se vai conhecer alguém depois, it doesn’t matter. A franquia não é sobre isso, é sobre manipulação das massas pela mídia e pelo governo, sobre Star System.
Katniss Everdeen é uma celebridade, não é uma líder, é peça no jogo de pessoas poderosas e ela demora muito tempo para perceber. As pessoas lutam por si própria, a Everdeen é a chama que os alimenta. Tanto é que sua saga final, toda aquela invasão a Capital, não serviu para nada. A guerra teria sido igual se ela tivesse ficado quietinha no Distrito 13. Afinal, a função da celebridade não é lutar, é aparecer na frente das câmeras e parecer que está fazendo algo. Se Katniss tivesse um Facebook ou Instagram, teria aquelas fotos com comida, em bares, em viagem que te daria inveja e a certeza que a sua vida é um lixo comparada a dela.
Assim, a história é bem construída, eles nos mostram a figura real por trás das câmeras e vemos que é uma pessoa destruída, não só uma vez, mas várias vezes. No momento em que Everdeen percebe que sempre foi uma peça de jogo, e que derrubar um governo não significa derrubar o sistema, é que ela se torna a heroína dessa geração. Aquela flecha na Coin foi o momento mais dark de Katniss, ela estava motivada por vingança e ódio e seu plano era se matar na sequência, mas, em consequência, ela livrou a nação de uma outra ditadura tão cruel quanto a anterior, o governo era outro, o sistema o mesmo. Se ela tivesse conseguido se matar naquele momento teria tido um destino parecido com o de Ripley, que para impedir que a Cia tenha a rainha do xenomorfo, se sacrifica no terceiro filme (não falaremos do filme 4, né?). Mas, por algum motivo resolveram dar a Katniss o que nunca deram a Ripley, um descanso, um fôlego. Deixaram a Mockingbird ter romance, ter filhos, casar e essa imagem nos causou estranhamento a princípio, porque aquele final “Doriana” não condizia com a heroína criada em 4 filmes, caçadora, assassina, com arco, flecha e fogo no fundo.
No livro é outra coisa, o final é para mostrar que nessa guerra a protagonista perdeu sua sanidade, mesmo com a imagem aparente de estar tudo bem, tanto Katniss quanto Peeta ficaram loucos, a guerra leva o melhor de nós. Mas no filme, aquele final foi WHAAAT? O discurso que ela faz para aquele bebe bochechudo (coisa mais fofa) tenta ilustrar que ela perdeu essa sanidade, mas todo o resto diz muito mais. O campo, o vestidinho florido, tudo diz está tudo bem, sou uma dona de casa feliz com meus dois filhos e meu marido bonitão. Foi como o epílogo de "Harry Potter", funciona no livro, mas no filme fica meio estranho, jovens envelhecidos por maquiagem e computação é meio over. Melhor teria sido cortar no verdadeiro ou falso.
A aceitação desse final, no filme, demorou muito para vir. Apenas pensando que talvez ela merecesse uma folga, como Ripley merecia voltar para Terra com Newt e ser sua mãe (depois da briga de mulheres mais power do cinema no final de “Aliens, o Resgate”). Katniss merecia esse descanso, tiraram tudo dela, e daí se ela casou? E daí se ela teve filhos? Ela continua sendo o exemplo de protagonista que queremos ver no cinema e na TV, um exemplo para inspirar novas personagens na nossa geração. Algo que já está sendo atendido, aliás, fala sério “o que é esse Jessica Jones”?
Texto análise da colaboradora Denise Faustino.
Texto análise da colaboradora Denise Faustino.
Prefiro a geração anterior.
ResponderExcluirDois
Excluirtrês..
ExcluirKatniss Everdeen é a Ripley, a Sarah Connor e a Princesa Leia da nossa geração. Nunca vi tamanha besteira.
ResponderExcluirAdorei sua análise! Principalmente sobre o final. Tenho visto muita gente dizer que odiou essa última cena "florida". De fato causa estranhamento e pode ter faltado algo que a conectasse com sua sofrida jornada (um cenário menos bonito ou roupas diferentes... Com certeza um detalhe visual seria a melhor intervenção) Mas Katniss ser naturalmente uma guerreira não quer dizer que ela seja soldado, que seja assim o tempo todo. Eu pensei como um descanso mesmo. E mais: Ela sempre se mostrou maternal no sentido de protetora, especialmente com quem ama. Para mim não é contraditório ou inaceitável ela poder ter um momento quieta com sua família. Ela merece, oras! Temos que parar de pensar que ser mãe, gostar de romance, usar vestido e/ou qualquer outra coisa do tipo é sinal de fraqueza. Muito pelo contrário. Eu acredito que uma das características que nos tornam mais fortes é exatamente ser "várias numa só". Sei cuidar de um filho no parque e se preciso, luto na guerra.
ResponderExcluirOi Raquel, que bom que gostou, fico muito feliz. Muito obrigada pelo seu comentário. :)
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