domingo, 30 de agosto de 2015

Resenhandoadois: Narcos (2015)

A aguardada série da Netflix inspirada em Pablo Escobar teve seu lançamento mundial na última sexta, já vimos a primeira temporada inteira e te contamos tudo!

Muito foi dito quando a Netflix divulgou sua nova produção original sobre a história do narcotraficante colombiano Pablo Escobar, talvez surpresa semelhante houve quando o diretor e o protagonista foram anunciados, trata-se da dupla José Padilha e Wagner Moura, ambos sucesso de público e critica por 'Tropa de Elite' e sua continuação.

Na última sexta, o serviço de streaming divulgou para toda sua base de assinantes os dez episódios da primeira temporada de Narcos. Com sua produção milionária e locações todas nos lugares onde se deram os acontecimentos, não só no Brasil, mas na América Latina e EUA principalmente aguardavam para ver o resultado desta super produção.


Narrados pelo ponto de vista do agente do DEA (Departamento Anti-Drogas Norte Americano), Steve Murphy (Boyd Holbrook) já no primeiro episódio da serie é transferido para a Colômbia, numa tentativa da polícia de Miami de investigar a crescente quantidade de cocaína que entra no país, advindo dos países sul-americanos. O agente se transforma em peça fundamental para montar o quebra cabeça que o Cartel de Medellín, liderados por Escobar fazem na produção e distribuição de cocaína.

A série tem um ritmo bom, e não há cenas desnecessárias, o que faz com que assistir a vários episódios seguidos seja tarefa fácil para fãs de séries.  Desde o início, o diretor Padilha faz uso de um recurso bem conhecido para quem assistiu os filmes da franquia 'Tropa', em que a voz do narrador deixa tudo devidamente explicado, sempre presente. Esse recurso se faz útil para entender a dinâmica das conexões entre os diversos mafiosos, porém tiram um pouco da emoção em momentos que o agente não poderia estar presente, como nos momentos sozinhos de Escobar ou reuniões do chefões do narcotráfico.



Os primeiros episódios fazem referência a um estilo chamado "realismo mágico", que é uma corrente de estilo artístico forte na Colômbia, e tal analogia foi uma grande sacada de Padilha, pois a série em quase todos os seus dez primeiro episódios desta temporada, faz uso de um recurso que mistura a realidade com a ficção, com o uso de imagens de arquivos.

Em diversos momentos as atrocidades que Escobar comete parecem ser demasiadamente exageradas no seriado, ainda mais para quem não conhece no detalhe a história do narcotraficante, porém o diretor acrescentou uma foto, um vídeo ou reportagem verídicos que fazem quem assiste ficar ainda mais embasbacado com o conteúdo, tais documentos históricos dão o atestado de veracidade na narrativa que Narcos conta, como, por exemplo, a invasão ao Palácio da Justiça colombiana, o atentado a bomba que derrubou um avião cheio de civis e o assassinato de políticos e juízes, tais barbáries poderiam ser originadas de mentes criativas dos escritores ou diretores, porém todos são baseados em eventos reais.



Fato que merece grande ressalva é a monumental atuação de Wagner Moura na pele de Pablo. Com domínio de idioma e segurança no papel, Moura mostra um líder nato, articulado, sempre pensativo e atento, dono de uma calma mesmo nos momentos mais difíceis, fato que fica evidente quando fala com sua esposa ou filhos. 
O ator está tão firme no personagem que os trejeitos são simplesmente incríveis, é impossível não reparar no andar. Sim! Um caminhar tão notadamente atribuído a Escobar, com passos curtos e o jeito bonachão do traficante. A semelhança e caracterização também não deixam a desejar, o que é claro no quilos que o ator ganhou para ficar mais parecido com Escobar. A caracterização aliás é destaque não só por ele, como também pelos outros personagem, sempre com atores muito parecidos com os reais protagonistas, a série toda teve a preocupação com o regresso aos anos 70 e 80, um trabalho muito bem realizado, das camisas que Moura usa e caminhonetes Toyota Land Cruiser que fizeram sucesso como carro favorito de traficantes fugitivos.




A primeira temporada de 'Narcos' é dividida em 10 episódios, com quarenta e cinco minutos cada, e abrange um longo período da vida de Escobar, apesar de não contar o início de Pablo na vida do crime, 'Narcos' começa com ele já contrabandista. O enfoque é na relação dele com o tráfico de cocaína, fato esse explorado do primeiro contato com a droga, até se tornar um dos homens mais ricos do mundo. 

Em paralelo ao seriado, eu li e recomendo o livro escrito pelo filho, Juan Pablo Escobar, "Meu Pai Pablo Escobar", em qual o seriado é inspirado, fiquei surpreso que grande parte da história foi contada já nessa primeira temporada. Imaginei que a série seria mais pausada. Ao longo dos dez episódios os acontecimentos se dão muito rápido, não que tirem a importância deles, mas ao ler os detalhes da vida de Escobar, penso que alguns momentos poderiam ter sido melhor explorados, até para dar uma pausa na adrenalina que cada cena tem.

Com uma ótima história para se contar, um time grande de talentos, e uma produção respeitosa, o ritmo e a veracidade dos fatos não mentem, 'Narcos' já nasce um clássico moderno, e talvez por isso, seu lançamento pela Netflix aponte que o streaming não é mais futuro e sim o presente em movimento, cuspindo fora oligarquias de cinema e televisão, por um paradoxo quase o que Escobar queria fazer na Colômbia com a burguesia e a classe política.


'Narcos' - Primeira Temporada  
Nota: 9 / 10





Obs1: Além de Padilha, que dirigiu os dois primeiros episódios, Narcos contou com outros três diretores: o mexicano Guillermo Navarro (que fez a fotografia de O Labirinto do Fauno e dirigiu episódios de Hannibal); o colombiano Andi Baiz (do remake latino de Breaking Bad) que foi responsável por episódios com forte teor político (episódios 5, 6 e 9), e o brasileiro Fernando Coimba (O Lobo Atrás da Porta) que comanda os episódios 7 e 8.

Obs2: A segunda temporada ainda não foi confirmada, porém a diversos rumores que está em produção e meu palpite penso que deve se dar na caçada a Escobar e a guerra entre os cartéis de Medellín e Cali.

Obs3: A tão comentada barriga falsa de Wagner Moura para compor o personagem mais velho, pelo menos a mim, passou bastante discreta e bem feita.

Obs4: A abertura com música de Rodrigo Amarante e imagens reais de Pablo e da fazenda Nápoles são um charme a mais do seriado.

Abertura:




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