sexta-feira, 13 de março de 2015

Cinemandoadois #23: Ida, 2014

What sort of sacrifice are these vows of yours? 
Sobre a inocência e a tragédia em um mundo de pecados.




Anna (Agata Trzebuchowska) é uma jovem órfã, criada por freiras, que está se preparando para se tornar uma delas. Até que a Madre Superiora (Halina  Skoczynska) conta que ela tem uma tia, Wanda (Agata Kulesza), e a manda visitá-la antes de fazer seus votos. Nessa visita a jovem descobre que seu nome verdadeiro é Ida, sua família era judia, capturada e morta durante a guerra. Esse encontro traz outras diversas descobertas sobre a família e origem de Anna, que resolve partir com a tia para buscar compreender sobre sua real história e identidade.


É importante ressaltar que Ida (ou Anna) cresceu sem a presença de nenhuma família, e, ainda, foi criada sobre os rígidos preceitos da igreja católica, ou seja, é uma garota que desconhece o que é liberdade e o que é ser amada. Assim, a liberdade está presente no contexto do enredo como uma protagonista, pois, por mais que Ida tenha escapado do campo de concentração, continua presa no próprio destino.
Apenas essa premissa já compreende uma obra intimista e bastante tocante.

Porém, o diretor Pawel Pawlikowski não deixa aberturas para a piedade no filme. Wanda e Anna são mulheres fortes, a frente de seu tempo, que não estão dispostas a aceitar qualquer tipo de consolo ou pena. Tudo isso adicionado a ótimas atuações e desenvolvimento de personagens. A característica mais positiva do filme.


A opção de ser todo em preto e branco, com o uso do belo trabalho de Ryszard Lenczewski e Lukasz Zal na fotografia, foi acertiva, já que a profundidade no decorrer da história exclui a necessidade de cores. A tristeza e a melancolia no silêncio de Ida e Wanda não teriam o mesmo impacto se estivessem coloridos. A vida delas era sem cores, mesmo que a tia se esconda constantemente através de festas e romances, o telespectador percebe que aquela não é a realidade de seus sentimentos.


Contudo, não há como negar que a temática de Segunda Guerra Mundial já está banalizada. O uso constante desse momento tão sofrido para a humanidade, na tentativa de ser universal, tira um pouco a qualidade do roteiro. Porém, a grande novidade aqui é o país em que a produção é feita, a Polônia após a Guerra, que pouco aparece no cinema e, principalmente, no grande circuito. Não apenas interessante, mas também necessário, entender o que os poloneses viveram nesse período.

Além disso, outro ponto a ser discutido é o desfecho do filme, que pode não agradar a maioria do público, dividindo opiniões distintas. A conclusão mostra que, para compreender uma pessoa que passou por tantas dores, é necessário voltar e rever muitas vezes sua história, pois não é individual e sim um pouco de cada um de nós. Ainda assim, enquanto Wanda não conseguiu encarar a própria história durante muito tempo, Ida opta em revisitar o passado, mesmo com suas limitações. 



Nota: 8,5 / 10

Obs1: Ida foi o grande ganhador de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, ficando na frente de Relatos Selvagens.
Obs2: Ida ganhou ainda como Melhor Filme no Festival de Cinema de Londres; como Melhor Filme em Língua Estrangeira no Prêmio do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York; como Melhor Atriz para Agata Kulesza, Melhor Roteiro, Melhor Design de Produção e Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Gijón.
Obs3: Todo o filme foi rodado na Polônia, em cidades como Lódz, Pabianice, Mianów e Szczebrzeszyn.
Obs4: A atriz Agata Trzebuchowska é uma ateia devota. Essa é sua estreia no cinema.

Informações Gerais
Roteiro: Pawel Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Os usuários do site IMDb deram a nota 7,5 para esta produção.
Os críticos que tem os seus textos linkados no site Rotten Tomatoes deram uma aprovação de 96% e uma nota média de 8,4. 

Trailer:


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